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domingo, 23 de setembro de 2018

Contextualização Literária

SOCIEDADE BRASILEIRA PELO OLHAR LITERÁRIO MEMORIALÍSTICO DE DRUMMOND E MORLEY.
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BRAZILIAN SOCIETY BY THE MEMORIAL ISSUE OF DRUMMOND AND MORLEY.


Aline Mendonça Pereira[1]
INTRODUÇÃO
A teoria Kantiana desenvolve a ideia de que o próprio desejo é um fator que escraviza o ser humano e a ideia de igualdade, favorece apenas ao fraco, oprimido, pois quem está no poder deseja sempre possuir mais autoridade. Da mesma forma é possível o homem viver em sociedade, após a repressão dos próprios desejos, em que viver em sociedade, desperta no indivíduo, a capacidade de pensar além dos desejos, tão quanto ao modelo Hegeliano, composto ao mundo de interesses em que a racionalidade humana complementa todas as coisas.
Partindo das considerações ontológicas Balestero (2016), dos valores memorialísticos conceituados por Dalvi (DALVI, 2015, 2013, 2012) em que as próprias literaturas tratam entre finais do século XIX e XX, propomos apresentar como a sociedade brasileira apresenta características desiguais através do diário de Helena Morley, em  Minha vida de Menina (1893-1895)e nos poemas de Carlos Drummond de Andrade, em  Boitempo III, Esquecer para Lembrar (1979), portanto, analisamos relatos memorialístico no primeiro ano, 1983, do diário de Minha vida de Menina (MORLEY, 2016 [1942]) e da literatura poética Drummondiana  em  Esquecer para lembrar.
Obtendo a finalidade de responder como as características dominantes afetam a desigualdade social, indivíduos que dominam, como seres pensantes, são produtores de idéias, protagonizam a produção, a teoria da moral como produto do estado, dominando sobre as relações de escravatura, exploram parte da sociedade no processo social, político e intelectual Marx (MARX, 1974, p. 09-18). Procuramos apresentar características dominadoras em que uma sociedade sobrepõe à outra por meio do patriarcalismo; da questão racista e escravista; da atividade econômica de extração matérias primas, como os cascalhos de diamantes e o minério de ferro, relatadas em Diamantina e Itabira, Minas Gerais; bem como as relações consideradas por Walter Benjamin em O Narrador (2012, p.213-240), através da evolução, surgimento da imprensa em detrimento do conhecimento pela informação. A fim de obter o posicionamento da sociedade brasileira pelos estudos das duas literaturas mencionadas.
Patriarcalismo Brasileiro
A partir de afirmações aos modos de sociedade patriarcalista, Balestero (2016) afirma que a literatura de memória subjetiva é um fator coerente do saber ontológico a partir dos olhares individuais para uma denuncia da sociedade cultural como um todo, colocamos como objetivo contextualizar o diário em Minha vida de menina (MORLEY, 1942) e relatos nos cadernos de Boitempo em  Esquecer para lembrar, Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade ( 2017 [1968], características manifestas da dominância opressora patriarcalista, que decorre entre séculos XIX, 1893, e século XX , 1910, DALVI (2017, p.4224). Ressaltamos  a diferença de gênero como fator diferencial no patriarcalismo brasileiro ao compor segundo COSTA (2015, p.44) uma sociedade em que os homens dominam, oprimem e exploram as mulheres, a educação restringe às necessidades de ser mãe e esposa, as que não se casam, aos vinte anos são consideradas solteironas.
Com isso  Minha vida de menina  MORLEY   (MORLEY, 2016 [1942], no diário  do primeiro ano, 1893, descreve o trabalho doméstico realizado por sua mãe em  Quinta-feira, 03 de Março, denuncia a mulher como prestadora de serviço do lar em  Quarta-feira, 11 de Outubro,  quando atribui obrigações domésticas. Na relação com a sua avó, descreve privação financeira sofrida por não poder dirigir o seu próprio dinheiro ao questionar que sua família seria favorecida se sua avó dirigisse seu próprio dinheiro, assim não passaria fome,  Sábado, 05 de Agosto. Apresenta também a influência da igreja na educação, ao receber o livro de sua avó,  Imitação de Cristo,  a fim de que Helena,  compreendesse a correção dos mais velhos aos mais novos,  Sexta-feira,  6 de Outubro.
Equitativamente, Andrade em Esquecer para lembrar, aproxima o termo “negro” ao negativismo opressor como influência dominadora do estado e da igreja na educação, pelas punições  em  A norma e o domingo, descreve o castigo, ao ser impedido de sair como “prisão perpétua do comportamento”; em Fria Friburgo no poema,  Dormitório, expõe seu pensamento ao autoritarismo do pai caso rejeitasse voltar ao colégio interno pelas expressões: “se não for voltar te castigo, te deserdo, te renego”; condizente com a figura patriarcal em  Primeiro Dia,  no colégio Aranaldo quando descreve o termo “pai imperador, na retaguarda”.
Deste modo assim como é possível confirmar que o patriarcalismo oprimia as mulheres, também igualmente as condições de castigos infantis. COSTA (2015 , p. 49-51)  formaliza o regime patriarcal  absolutista, responsável ao poder de ceifar a vida de escravos, meninos, moças e seus próprios filhos, onde a crueldade aproximavam  crianças negras e brancas, ambas eram punidas por pais, tios avós padres, mestres, como ao pelo trabalho escravo, visto em MORLEY ( 1893) em  Quarta-feira, 15 de fevereiro.  De igual modo SECCO (2016) relembra  Boitempo,  ao tecer o patriarcalismo do pai de Drummond como uma infância reprimida em paralelo de uma livre construção identitária nacional, ao passo que BALESTERO ( 2016) afirma que a memória subjetiva se volta à autobiografia poética e ética, em SECCO (2016) Drummond assinala a historicidade da família patriarcal pelos contextos da época.
Boitempo,  no poema  SINA ocorre delação  sobre as desigualdades ao gênero feminino, onde é questionado o “direito à liberdade de voto”, o poeta ironiza os “bordados e as grades do convento” à espera do casamento, relata como em COSTA ( 2015, p.44) o destino da educação feminina apenas à necessidade de mãe e esposa. Carlos Drummond de Andrade, ironiza em  As moças da escola de aperfeiçoamento,  quando expressa “as professorinhas que invadem/ a minha desprevenida Belô”, o termo professorinha associa a formação da mulher apenas em Licenciatura e não em Bacharel, também comentado em  Mulher Eleitora,  usando o termo “amadas escravas” ironiza que as inibições ao gênero invadem  na liberdade de escolha,  pensamento e expressão na formação integral feminina.
As literaturas apontam a sociedade patriarcal inferir no cotidiano do lar, na educação e no convívio social, ilustra o sustento dominador pela concessão do estado e da religião à mulheres e crianças, onde a formação societária retoma valores morais, éticos e culturais, vitimados pelo caráter autoritarista, ao passo que o patriarcalismo controla, persegue e massacra a liberdade infantil e feminina em “grades” de poder.
Patriarcalismo na Sociedade Negra
Embora a constituição de 1824, previa impedimento de negros na participação política e exercício da cidadania, após o período da abolição, 1888, o cenário não mudou. Continuaram perseguidos, tal como presume Karl Marx na exploração de uma sociedade por outra (1954 [1954, p.13]). Fracos e oprimidos, a mudança da condição de escravos para libertos, no Brasil mobilizou à sobrevivência cotidiana, africanos adultos criam alternativas de subsistência e ascensão social MARTINS (2015, p.113).
No cenário de desvantagem, ex escravos, são visualizados por Helena Morley em, Quinta-feira, 04 de Maio, apresenta que os negros, mesmo após libertos continuavam  na casa de sua avó, criaram alternativas  de vida ao comerciar atividades da culinária. E as tentativas de ascensão social, estão declaradas na festa da Igreja do Rosário, mesmo em desigualdade se dispunham participar como homens livres, apesar de gastar mais e servir aos brancos.
Os valores europeus ao integrar à intencionalidade nacional capitalista, anunciam início do período moderno, geram novas relações entre negros e brancos, filhos e pais, mulheres e homens (COSTA, 2014, p.47). Essa transição é narrado por Morley, em Quarta-feira, 24 de setembro, quando Helena presencia  a divergência de mentalidade do pai, europeu, sobre a sua mãe, mineira, em que o  pai estimula os filhos brancos, ao trabalho alegando que os brancos trabalham  na Inglaterra e mesmo, após discordar de sua mãe, pelo preconceito e rejeição da abolição, a convence da visão trabalhista em que não tiraria o caráter inglês herdado ao filho. Ostenta em Quinta-feira, 09 de novembro, que o preconceito ao negro continua ao consolar Helena a fim de que diga as suas colegas que “o céu é dos brancos e não dos africanos”.
Em Andrade, a menção à escravatura é refletida nas expressões “ escravas” , “negros padres”, “prisão” “castigo”, “negras matemáticas”, apesar de não estar cronologicamente no mesmo espaço de tempo dos diários de Morley, denuncia o preconceito e atribuição ao negro tudo que é ruim e negativo tanto ao eu lírico quanto a sociedade do entorno, mesmo após décadas de liberdade ainda prevalece a desigualdade opressora, Andrade contextualiza a cultura e o sofrimento negro às ditaduras Getulista, na industrialização e militar, década de 60.
Transformações Sociais pela Escassez dos Diamantes e Exploração de Minério de Ferro
Carlos Drummond Andrade e Helena Morley (Alice Alyce Dayrell Caldeira Brant), anunciam extração de matérias primas como principais atividades econômicas, que afetam a sociedade mineira de Diamantina e Itabira, em Minas Gerais. Assim  o “modo de produção da vida material cotidiana a vida social, determina a consciência,  ao explorar pela vida material, forças produtivas sociais e as relações de produção” ( MARX, 1974 [ 1951], p.14).
No poema Rua de mim,  Andrade compõe o desenvolvimento social pelo modelo de como  as transformações industriais afetaram a sociedade, como em Rua do Carcalho, ao referir a exploração  e na “rua Tiradentes” como uma lição à sociedade em “calar a boca” mediante ao poder econômico dominador. Ironiza a atividade industrial Sino, “ já não somos prisioneiros de um emprego, de uma religião”, como também em Encontro, neste poema é denunciado o poder aos interesses na produção mineradora, situando Minas Gerais sobre o domínio do secretário João Luiz Alves.
Martins conceitua que “os terrenos ricos em depósitos de diamantes, atraíam homens livres e escravos que, coletivamente escavavam cascalhos em busca de pedras preciosas” (MARTINS  2014 , p.210). As afirmações  permitem notar em Minha vida de menina, uma procura incansável de diamantes e o povoamento da exploração do pai de Helena, inglês e homem livre, onde em Sábado, 21 de Janeiro, manifesta a exploração dos diamantes, em que seu pai e tio dispensam os trabalhadores, denuncia ainda, a escassez da pedra: “diamante é raro achar mas folhetos de ouro a gente encontra sempre”. De igual modo,  acontece quanto `a  exploração do trabalho pesado e exploração dos compradores, visto que  a crise do diamante influência na vida econômica e cotidiana da família de Helena, em Sábado, 05 de Agosto, descreve a espera do pai por um cascalho com a expressão “diamantes que não aparecem”, ao passo que denuncia a exploração de vendas, “diamantinos que meu pai deixou não deram para as despesas”.
Resende (2016) enfatiza que o material particulado lançado pela mineradora, além de implicar ao desmatamento e impedir a regeneração natural, causa doenças cardiovasculares, associa à poluição do ar, quanto ao aumento de doenças respiratórias. A concepção das consequências da poluição e o desmatamento pela atividade mineradora, é vista em  A montanha pulverizada,  de Carlos Drummond de Andrade, “ foge minha serra, vai deixando no meu corpo e na paisagem minério pó de ferro, este não passa”.
Denúncia da Manipulação do Saber
As idéias no Século XX, estão em mudanças, tanto pela guerra, ditaduras, quanto aos avanços e descobertas científicas, em que Walter Benjamin, em O Narrador ( 2012, p.213-240) torna saudosista da narrativa  das trocas de oralidade, que produzem conhecimento, reflexão do pensamento. As idéias permeiam ao domínio em massa de notícias, por meio da imprensa tornam solúveis e descartáveis, pois já entregam o que querem transmitir, não produzindo alteridade na sociedade, a alienação do saber está auto declarada pela dominação industrial.
Em Minha vida de menina, Sábado, 04 de Março, destaca a aprendizagem intuitiva pela troca da narrativa da Tia Madge, ao promover reflexão sobre a conduta moral e ética de Helena, identicamente  em Quinta, 01 de junho, mostra aprendizagem pelo contato com livros, em que resultam na prática capitalista de Helena “comercializar coisas”, através da leitura também fornecida por sua tia.
Balestero ( 2016) sinaliza :
As literaturas autobiográficas são partes de uma experiência  coletiva, histórica e cultural, sendo o dever ético olhar e conviver com fatos que marcam a história da humanidade como um todo para assim aprender com eles ao lidar com o presente e construir em povir, melhorando pela experiência adquirida do passado. Conclui que a informação é manipulada , e que a era da informação não é, ainda, a era do conhecimento em devir.” (BALESTERO, 2016, p.26-42)
Carlos Drummond de Andrade, denuncia o tolhimento da liberdade de expressão no poema Imprensa: “ Nossos jornais sorriem para a vida (...) O tempo da vila pobre/onde só havia tempo/não havia notícias/morreu de falta de assunto” (ANDRADE, 2017), pois o ser humano deixa de trocar experiência pela narrativa do convívio, como em Minha vida de menina,  pelo silêncio da “paz aparente”  decorrida da política de  pão e circo  da imprensa. A delação da manipulação, continua em  Separação das casas, “E todo mundo/ virou cofre estranho de minério/ exemplarmente fechado a mãos,/ olhares, perguntas...”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade brasileira estudada, pelos olhares memorialísticos de Drummond e Helena Morley , encerra denúncias manifestadoras de poder prevalecendo aos conceitos, morais, éticos, culturais, perpetuando sérios impactos à sociedade brasileira. O olhar sobre as desigualdades permite, fatores posicionais de promoção social em que, tal como Max, é visível a sobreposição e favorecimento de uma classe sobre a outra, como fora estudado na sociedade patriarcal, a repressão das mulheres, crianças, da escravidão, a interação europeia, diferenças raciais, exploração do trabalho que ilustram a pobreza onde muito se trabalha e pouco se possui, em Minha vida de menina. A destruição da paisagem nativa, sem tempos de regenerar, poluição, repressão no colégio, uso de termos negros padres para tipologiar o que é duro, mau, ruim, violência às fases de desenvolvimento infantil, abusos, maus tratos, castigos, estão bem posicionados nas duas literaturas.
Mesmo após a Declaração universal de Direitos Humanos, em 1948, ou ainda após os Pactos Internacionais sobre os Direitos Civis e Políticos e  sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, não foram suficiente para conter movimentos opressores de dominação das desigualdades sociais, em que mulheres, negros, crianças, o direito de pensar e de se expressar, vitimaram em continuidade com violência a sociedade brasileira, haja vista em  Drummond,  a posição dos poemas em Lateral esquerda, que tornam além das denúncias escritas, Boitempo como um Manifesto  Drummondiano.
Portanto a recuperação memoriada, contribui num olhar para sociedade aos interesses das idéias dominantes, em que a idéia de igualdade está contida ao consenso do imperativo categórico Kantiano, como forma de convívio com o outro, e os mais oprimidos toleram seus desejos aos superiores, a favor do benefício das míseras principais condições de existência.
Este trabalho contempla contextualizações comparativas, indutivas dos fatores linguisticamente relatados nas literaturas de Drummond e Morley, em relação às biografias pesquisadas, necessitando aprofundamento das relações memorialísticas aos fatores gerais da historicidade do entorno brasileiro, a fim de que as proposições possam ser conclusivas ou primem por fundarem novas.

REFERÊNCIAS
BALESTERO, José Augusto. Poesia e memória Pela Formação de um Conhecimento Ontológico IN: Estação Literária, Londrina, v. 15, p. 26-42, jan. 2016. Disponível em: < http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/26088/18923>. Acesso em 15 Abr. 2018.

BENJAMIN,  Walter. O Narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In:  Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012, p.213-240.

COSTA, Ricardo Peres. Gilberto Freyre e a infância no Brasil patriarcal. In: Revistas USP, São Paulo, Ano VI, N.10, P.41-60, 2015. Disponível em: .  Acesso em 25 Abr.  2018.

DALVI, Maria Amélia. Memórias literárias da escolarização (1890-1910): Drummond & Morley. IN: Anais do XV Encontro da Abralic. Disponível em: < http://www.abralic.org.br/anais/arquivos/2016_1491436935.pdf >. Acesso em 30 nov. 2017. >. Acesso em 30 nov. 2017.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Boitempo: esquecer para lembrar. Posfácio: John Gledson. São Paulo: Cia. das Letras, 2017.

KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade de Juízo. Trad. Valério Rohden. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2012

MARTINS, Marcos Lobato. Os conflitos na mineração e a Justiça Diamantina, Minas Gerais, décadas de 1850-1880. Varia história , Belo Horizonte, vol.30, n.52, pp.207-230, Jan/Abril 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-87752014000100010>. Acesso em 20 de Abr. 2018

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Sobre literatura e arte. Tradução Albano Lima. Lisboa: Editorial Estampa, 1974.

MORLEY, Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Cia. de Bolso, 2016.

REZENDE, Vanessa Leite. A mineração em Minas Gerais: uma análise de sua expansão e os impactos ambientais e sociais causados por décadas de exploração. Soc. nat., Uberlândia, vol.28, n.3, pp.375-384, 2016. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.1590/1982-45132016030>. Acesso em: 20 Abr. 2018.

SECCO, Carmem Lucia Tindó. Tempo e memória: O Repensar de Diferenças. IN: Semioses Revista Ciêntifica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p.84, 2016. Disponível em: < http://apl.unisuam.edu.br/revistas/index.php/Semioses/article/view/1981996X.2016v10n1p84/0>. Acesso em  20 Abr. 2018.




[1]1 alinemendoncaviolino@gmail.com: Aluna Especial do Mestrado em Letras 2018/1 pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES; Pedagoga pela Universidade de Uberaba em Minas Gerais - UNIUBE e Especializada em Educação Infantil e Séries Iniciais com Ênfase em Alfabetização pela Faculdade Brasileira – FABRA/ES; Graduanda em Música Bacharelado na Universidade Federal do Espírito Santo.

sábado, 28 de abril de 2018

Boitempo em análise de um conhecimento ontológico

Fichamento de transcrição e resumo



BALESTERO, José Augusto. Poesia e memória Pela Formação de um Conhecimento Ontológico IN: Estação Literária, Londrina, v. 15, p. 26-42, jan. 2016. Disponível em: < http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/26088/18923>. Acesso em 15 Abril 2018.

" Analisa a memória em literaturas autobiográficas brasileiras não apenas recorda fatos de um passado imóvel como revela o saber ontológico humano por meio de uma nova ficção da subjetividade.
Sendo atuais condutas de leituras estar em divergência ou convergência, ao ampliar caminhos para debate sobre os limites e papéis da ficção frente ao conívio de uma era que tenta superar conceitual e constitucionalmente às dualidades [...].
[...] a informação antes de tornar conhecimento é suscetível de manipulação para interesses próprios e a era da informação não é ainda uma era do conhecimento, [...]
[...] os estudos de Beatriz Sarlo (2007) definem imbricação entre a tese de uma memória que  só pode ser realizada se for experienciada, e na tese sobre valor de veracidade de uma pós-memória, aquela herdada de pai para filho, em que situa  uma reformulação cultural vinculada  pelas escritas biográficas na conduta da veracidade de sua realização  enquanto construção de um conhecimento transmissível [...].
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[...] discurso sobre a memória subjetiva como fator de coerência do conhecimento ontológico - este que vai da individualidade do sujeito à composição cultural de uma comunidade.
Na era fragmentária e a retórica do romantismo,  lembra que existe produções mediáticas e outros meios linguísticos em que Walter Benjamin (1987) considera como 'burgueses'- no que aqui se considera como contemporaneidade literária [...] este elemento da subjetividade se torna a própria ficção, atuante como elemento de coerência para experiências e conhecimentos conjugados.
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Maria Rita Khel (2009, p,4) aponta que Baudelaire percebeu, muito cedo, que a modernidade é uma época disforme que se caracteriza por ser o que menos se parece consigo mesmo.
[...] Marcio Seligmann- Silva (1999) revela, em exemplo do século xx, que entre as confissões biográficas e autobiográficas relacionadas ao holocausto nazista já havia 'fragmentos de uma farsa' [...] o que poderia ser uma farsa, poderia ser interpretada como gesto de expansão das experiências e do conhecimento humano diante da história documental e de uma cultura massificada.
[...] a memória subjetiva, estaria mais voltada para expansão do saber subjetivo e cultural entre as instâncias cronológicas do tempo [...].
As literaturas autobiográficas seriam partes de uma experiência coletiva, histórico e cultural [...].
Sinaliza também, ter o dever ético olhar e conviver com fatos que marcaram a história da humanidade como um todo, para assim, aprender com eles a lidar com o presente e construir em povir, melhorando a partir da experiência adquirida do passado [...].
[...] o relato subjetivo acarreta esse conhecimento crítico que amadurece, percebendo as direções sociais e globalizantes [...].
[...] chegando ao caso da poesia brasileira contemporânea, quando uma obra poética memorialista se volta para um espaço autobiográfica, devemos considerar qua a autobiografia é poética ( poética e ética )  e não sobre a vida particular do poeta [...].
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Nas atuações da 'ars memoriae' na contemporaneidade,  conceitua que  ars memoriae  atua na memorização dos tempos e na presentificação entre tempo de conhecimentos e condutas existenciais da identidade cultural da humanidade.
Em Boitempo  o movimento  político expande  conceito de  ars memoriae,  quando atua em fator introspectivo de uma memória ontológica, que não é apenas transformada pela rememoração, mas que transforma o sujeito que a invoca pela informação que se insere, no caso, um tipo de esquecimento de certa infância pré-consciente como reforço de uma memória adulta e madura.
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[...] O eu lírico das poéticas da memória [...] refaz entre o aproximar e se distanciar, pois ora aproxima da memória, ora se distancia de certa imagem do presente realizado como sinal de maturidade e consciência antecipadora do povir.
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[...] a memória ficcional atuaria nessa fronteira de redefinição do que o 'eu' é enquanto presente-a-se-fazer, ou seja, é na perspectiva de uma memória ontológica, que se torna possível a união em prol de uma perspectivação ética.
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Conclui que uma leitura que visa associar história, cultura, visão poética e filosófica, conceituando de reformulação cultural de identidade e alteridade, ao inferir contextos históricos, políticos e também filosóficos, e tais verdades fornecem base de pensamento para a poesia [...]".




Boitempo: Memórias, Poesia e História

Boitempo de Carlos Drummond de Andrade: confluências

Entre memória, poesia e história. IN: Cadernos de Pesquisa do CDHIS, Uberlândia, v. 1, n. 39,
p. 551-558, 2º sem. 2008.
Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/15462/10143>.
Acesso em 20 Abril 2018.

" [...] Drummond evoca sua infância em Itabira, a convivência conflituosa com o pai, os
medos e surpresas da adolescência, a descoberta da sexualidade, das conspirações
políticas e da morte, bem como outros temas que caminham entre a singeleza e a
complexidade [...] o universo escolar da atmosfera do internato e o papel do professor, bem
como as metodologias de ensino e vivências do entorno.
Para Carlo Ginzburg, 'pelo relato das memórias, pelas crônicas e pela literatura, podemos
obter testemunhas preciosas do comportamento de uma comunidade', em Cândido, a
fantasia modifica a ordem.
[...] a  literatura é um rico acervo de metáfora e símbolos capazes de subsidiar importantes
pesquisas de caráter sócio-histórico-culturais.
Em Ecléa Bosi, lembrar é refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as
experiências do passado, a memória não é um sonho, é um trabalho.
Gilberto Freire, ressalta a complexidade e todas as consequências advinda da
colonização brasileira até meados do séc. xx.
José Maria Cançado em Colégio Aranaldo: uma escola nos trópicos, apresenta que o
colégio interno deveria estar próximo a uma igreja, sendo os educandos frutos desse
matrimônio religioso, devendo haver punição aos indisciplinados, chegando a expulsão,
quando necessário.
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[...] as memórias de Drummond apesar de apresentar posicionamento crítico e ironia,
aprecia professores como o de latim Arduíno Bolívar e professor de português e francês.
[...] castigos corporais na aula de alemão em que critica não ensinar mas praticar a 'arte de dar cascudos ' ao invés de ensinar Goethe.
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[...] em 1918, é interno do colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo,
sendo expulso um ano depois por 'insubordinação mental'.
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[...] Lida com retóricas eloquentes, distantes da realidade dos alunos e da vida [...].
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[...] Focault argumenta que a rígida disciplina nos internatos 'traz maneira específica de punir, sendo modelo reduzido do tribunal'.
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[...] José Maria Cansado acrescenta à disciplina e à opressão pedagógica imposta pelos jesuítas, de ser uma forma de mergulhar os alunos na tradição da obediência catequética.
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[...] Justino Magalhães, aponta que as instituições de ensino constituem de um 'processo que envolve dimensões humanas, culturais e profissionais de diversas naturezas: dimensões pedagógicas, sociológicas, administrativas, relação de poder e comunicação, relações de transmissão e apropriação do saber'.
[...] Drummond assinala a historicidade da família patriarcal brasileira dentro dos contextos da época além do olhar sobre as instituições de ensino do Brasil[...]".


Sobre Boitempo de Drummond

Fichamento de transcrição e resumo



SECCO,Carmem Lucia Tindó. Tempo e memória: O Repensar de Diferenças. IN: Semioses Revista Ciêntifica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p.84, 2016. Disponível em: < http://apl.unisuam.edu.br/revistas/index.php/Semioses/article/view/1981996X.2016v10n1p84/0>. Acesso em  20 Abril 2018.

" Obtêm por demonstrar como a escavação do passado e da linguagem, bem como a ruminação das lembranças e dos sonhos antigos se afiguram, nas perspectivas poéticas desses autores, como processos constituintes do repensar crítico de suas próprias identidades e raízes culturais.
[...] Em O itinerário dos Avessos,  o eu-lírico relembra a cidade natal em Itabira, Minas Gerais, ressurge o Brasil patriarcal, com divergências entre o autoritarismo do pai de Drummond em relação aos empregados em que é associada à escravidão.
[...] imagem do gado, como paladares do leite, em que explica traços mnemônicos do sujeito lírico.
[...] Visualiza o tempo das 'reminiscências daquele mundo submerso pelo fluir do tempo, daquele tempo que só pela poesia pode ser recuperado e revivido, tempo da memória' [...] Garcia (1978, p. 2016-2017).
[...] terce correlações entre a sua infância reprimida e o autoritarismo que marcou a história do Brasil [...] sendo criticados os mecanismos repressivos que impediram a livre construção de uma identidade nacional.
[...] Boitempo transforma-se, portanto, na memória do ruminar da memória, do adentrar nas malhas do tempo, ao encalço das próprias raízes [...]
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[...] constatamos que a memória perpassa a produção de todos, instituindo-se como resistência que através das lembranças tentam reatar os fios dispersos de suas raízes [...] em poetas dos Cadernos Negros,  Drummond relaciona a distância temporal em relação às heranças culturais africanas, ocorrendo consciência da impossibilidade de um resgate pleno, pois o que fica é uma sensação de vazio, de 'um vão e um vulto vagos na memória'".

domingo, 22 de abril de 2018

Estudos Memorialísticos por Sheila Dias Maciel

Fichamento de transcrição e resumo



MACIEL, Sheila Dias. Sobre a tradição da escrita de memórias no Brasil. IN: Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 4, p. 551-558, out./dez. 2013. Disponível em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/15462/10143 >. Acesso em 13 Abril 2018.
 Aline Mendonça

“[...] Para MACIEL (2013) as memórias são uma literatura que propõe retorno por parte do eu-narrador com o intuito  de evocar pessoas e acontecimentos representativos onde o eu-narrador escreve. [...] um depósito de fatos, torna parte de uma retórica e supera o armazenamento de dados, nela reconhece sua dimensão criativa.[...] memória possui calor e poder, relaciona dominação, propriedade de conservar informações em que lidando com criação e poder, o homem ressignifica e "auto reconhece".
Em linha do Tempo, é analisado obras brasileiras escrita sobre a égide da memória, admite que são autores renomados com características literárias à memória, diferindo na escolha e capacidade de singularizar o passado por meio da linguagem. 
As tantas memórias, MACIEL (2013), discorre por Visconde de Taunay em Memórias Escrita  na década de noventa, considera o momento de difusão positivista da ciência, em que Taunay (2003), reconhece a visão do narrador pela necessidade de voltar ao passado para reconhecer o presente, e o escritor prevê sua publicação apenas após cinquenta anos ou após sua morte. Descreve em memórias , na primeira edição, uma relação com a monarquia recebendo, grau de bacharel das belas letras após reprovar no sexto ano do professor de história, o primeiro romancista  do Brasil. A literatura continua reproduzir fatos de grandes feitos de seu poder relacionados à guerra contra o Paraguai. Portanto MACIEL (2003) afirma que Taunay adota uma narrativa com linguagens que aproxima do real narrativo como tom poético para representar o passado mais próximo à sua realidade.
Nas considerações às obras de Oswald de Andrade,  declara  que sua morte impediu publicação de outros trabalhos que favoreciam análise da cultura brasileira no século vinte. Publicado antes de morrer Um Homem sem Profissão, narrado em primeira pessoa a história de sua infância e adolescência, narram fatos que na temporalidade da memória do autor, pois são descritas aleatoriamente, como surgem na memória e Andrade se revela como escritor modernista pela recusa à tradição, revelando seu personagem Oswald Miramar, onde metamorforeia episódios entre ficção e realidade, entre a obra literária e a existência humana.
Analisando Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos, que é fragmentada por tratar de modo memorialístico o que o autor faz de autobiografia nos momentos de prisões vivenciados, que são instantes seletivos e ao ponto de vista da subjetividade do "eu social"  propõe união do passado com o presente.
Nas obras Meus Verdes Anos, contêm para MACIEL (2003), obra que acrescenta memórias autobiográficas, em  Solo de Clarineta  de Érico Veríssimo,  acrescenta além de relato narcisista a inclusão do "eu"  e do externo em "nós" como vínculo social humanista.
Discursa em Jorge Amado Navegação e Cabotagem, 1992, contribui por negação à forma das memórias, atribui por negação à forma das memórias, atribui também a autopromoção ao instigar o leitor  aos segredos  do narrador, além da presença do povo na literatura, mostrando a coletividade do eu lírico. 
Em  Quase Memória: quase romance de Carlos Heitor Cony,  memorializa o pai do Autor pela ordem da lembrança de modo não linear, intitulado pela palavra quase, que familiariza pelo recurso entre personagens existentes e fictícios.
Em  Ponto de Chegada, discursa  obras de não encontram apenas um tempo, pelas diferentes épocas da publicação e os autores fidelizam nomes reais inicialmente trazendo literatura como remate da existência, fogem do pacto inicial proposto como em Graciliano e Oswald.
Reconhece a pluralidade regional pelas obras situar por diferentes regiões, superando modelos estáticos de reescrita, ao contrário de COUTINHO, inicialmente citado e compreende na revisão do passado sem as "amarras da censura", contribui  ao conhecimento  humano, e as obras assim analisadas,  não estão inerentes ou repetitivas, mas devolvem trabalhos com linguagem que exige reflexões e escolhas próprias das atividades literárias." 

Palavras-chave: Memória, Escrita, Literatura Brasileira.