Este trabalho compõe numa dissertação às questões do cenário da música moderna e pós moderna no século XX e XXI, suas características fundamentais, convergências e/ou divergências e a relação dos compositores com as questões sócio-culturais e comunicacionais de suas obras. Apresento as principais modificações na escrita musical no século XX e XXI, os benefícios dessa expansão da linguagem e entraves causados pelos novos modelos de escrita:
A arte exige certo distanciamento para que haja percepção, contudo, as transformações decorridas pelo rompimento tradicional, desde o romantismo, desencadeiam “quebra de paradigmas” entre a ciência normal, caracterizada por Khun (1998), e a razão modernista de Kant dotada pela supressão dos desejos em crítica de que a razão é a “mãe da lei”. A arte não está invocada apenas por si mesma a ponto de possuir uma narração reflexiva como aos primórdios na história musical, mas o discurso passa possuir um sentido único com finalidades fragmentadas ao contexto humano, consumista da massa que se insere a música. O contexto histórico do pós segunda guerra denunciam, juntamente com a evolução tecnológica na humanidade que refletem por mudanças e quebras de paradigmas, sendo assim, a música está condicionada por novos padrões, como uma linguagem, em que “a informação antes de tornar conhecimento é suscetível de manipulação para interesses próprios e a era da informação não é ainda uma era do conhecimento.” BALESTERO (2016).
No modernismo o serialismo é elevado por Weber (SALLES, p.108, 20XX) à condição de um novo rompimento de paradigmas anteriores, que segundo o texto de (Kozu, 2013) compõe características como a negação aos princípios da tradição, assim como na arte, é recorrido ao abstracionismo. Tendências vanguardistas, apresentam o surrealismo de Freud, por exemplo, compõe o que está além da razão e da lógica, a imaginação, bem como tendências futuristas. Da mesma forma ao pensamento Frankfurtiano, que criticava a razão instrumental cientificista, como crença de que a evolução tecnológica é uma “cura” de todos problemas, em que a ciência e a técnica estão a favor do capital, onde Adorno denuncia a morte da razão crítica.
Em O narrador é analisado, muitas vezes a afirmação de Benjamin (2012), que “a experiência de que a arte de narrar está em vias de extinção. São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. Quando se pede num grupo que alguém narre alguma coisa, o embaraço se generaliza” ( BENJAMIN, 2012, p. 198.). Demonstra assim, o que permea no século vinte, dada pelo surgimento do rádio e de outros elementos comunicativos e tecnológicos, variáveis formas de alienação em massa, ou seja, de certo modo várias pessoas pensam da mesma forma, ou determinados grupos consomem mercadologicamente, no mesmo momento, as mesmas concepções ideológicas culturais que podem ou não ser manipuladas e objetivadas, onde encontramos Adorno e Benjamin posicionamentos em comum, que é a evidência cultural em massa, seja por alienação ou instrumento de politização, proporcionando modificações em diferentes localidades de “massa” à cultura musical contemporânea.
A máquina de guerra contra os estados totalizantes, são os mecanismos difusos que desestabilizam a ordem, segundo Boulez ( 1995) o Estado é a soberania, “no entanto a soberania só reina sobre aquilo que ela é capaz de interiorizar, de apropriar-se localmente” (apud. MP5, p.23). Boulez(1995), afirma quanto a individualidade que uma literatura menor não é uma língua menor, mas o que uma minoria é capaz de executar em uma língua maior, assim o modo menor é visto como uma ferramenta de guerra capaz de desestabilizar o maior, ou seja o Estado totalizante, em que a partir da instabilidade, proporciona o escape à “monotonia” alienante da massa estatal” imposta pelo maior, ou seja a mudança, e a quebra de paradigmas. KOZU (2013) retrata que para Kuhn ( KOZU, 25-26, 2013) a ciência normal seria o conhecimento utilizado da mesma forma e técnica pela “maioria”, trata que a existência de uma anomalia seria a identificação de um problema que supera os costumes da “maioria”, onde identifica a crise do sistema tonal no modernismo, sendo a solução da anomalia, ou seja o surgimento do serialismo é uma nova modificação de compor a música, enfrentando como resolução do problema identificado, sendo portanto classificado como um novo paradigma.
Tal como a informação ao ser noticiada por meio da imprensa perde seu valor, “exige-se da música a capacidade de ser rapidamente reconhecida como elemento unificador”, deste modo o caráter identitário é exigido musicalmente, ocorrendo um processo fenomenológico de transformações. KOZU (2013) retrata o populismo como algo que envolve um pluralismo otimista, numa celebração do consumo e do desejo, tal como predomina o capitalismo e a industrialização, acontecendo deste modo a era pós modernista.
No contexto, fragmentado, o contemporâneo se identifica, para Kozu com o que é local, eletivo e de complexidade múltipla a estabilidade é rompida pelo instável, tal como indeterminação, irregularidade, acaso e caráter aleatório, imprevisibilidade, rupturas de simetria, bifurcações, misturas e multiplicidades, entre outros. Assim, a música torna não clara, passa ter significado e utilidade individualizada, e a perda do significado é caracterizada segundo Salles (2005, p.117), pelo resultado da alienação das massas, por ter tornado um instrumento de comercialização, tal como Benjamin (2012) caracteriza ausência de reflexão do pensamento pela transformação textual fragmentada no contexto da evolução e alienação, Salles afirma que a transformação da música em elemento textual, provoca o declínio do conceito de obra.
“É preciso pensar/avaliar o sujeito em sua nova posição na atualidade com a identidade deslocada, ou descentrada, em relação a seu paradigma tradicional, como um processo nunca completado. As identidades estão sujeitas ao processo histórico, em constante processo de mudança e transformação, assim como as diferentes linguagens e a cultura.” Álvares (2011, p.1-4)
Contudo é possível compreender dentro das mudanças contextuais na sociedade que a música reflete uma nova perspectiva reflexiva, compondo uma conversão de sujeito que não possui uma identidade fixa e permanente, mas simboliza um objeto, por possuir finalidade de utilização, desconstruindo a dualidade entre o extrínseco e o intrínseco. O pós modernismo portanto, emite dualidade entre estilos, reconhecimento identitário, finalidades, sendo o que é denominado como “culto” para determinado grupo ou “massa”, pode não ser para outro. O compositor modifica sua obra a partir do olhar dos recursos tecnológicos, o surgimento da música eletroacústica, ao minimalismo, onde os microcosmos ganham importância, individualidade e finalidade, esta experiência acusa noção intervalar absoluta. Outra característica é a possibilidade de níveis de entre um microcosmo e macrocosmo, segundo Boulez( 1995, p.191-195), as possibilidades são ilimitadas juntamente com análise das durações, andamento e continuidade, que desconstrói o tradicionalismo pela ausência e precisão de andamento diferenciando da previsibilidade contínua da música instrumental, a música eletrônica recorre a descontinuidade de andamento informe.
REFERÊNCIAS
ADORNO, Theodor; W, Horkheimer, Max. A dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1995.
ALVARES, Sonia Maria; PRADOS, Rosália Maia Netto. Discursos Midiáticos e Cultura
Contemporânea. IN: Uberlândia: EDUFU, V 2, N 2, 2011.
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história.In: O Narrador. Considerações sobre a
obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e
história da cultura. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. p.213-240.
BALESTERO, José Augusto. Poesia e memória Pela Formação de um Conhecimento
Ontológico IN: Estação Literária, Londrina, v. 15, p. 26-42, jan. 2016. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/26088/18923>>>
Acesso em 15 Abril 2018.
Acesso em 15 Abril 2018.
BOULEZ, Pierre. "No limite da região fértil". In.: Apontamentos de aprendiz. São Paulo:
Perspectiva, 1995, p. 187-200.
CAZNOK, Yara. "As diferentes grafias adotadas hoje". In.: Música: entre o audível e o
visível. São Paulo: 2003, p. 61-67.
KOZU, Fernando. "O paradigma da complexidade na música de vanguarda do século XX:
uma revisão bibliográfica". In.: Revista Baile na Rede. V. 1. N. 10, 2013, p. 1-16. In UNESP.
KUHN, Thomas S. A estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo. Editora Perspectiva
S.A. 5o Edição, 1998.
SALLES, Paulo de Tarso. "A pós-modernidade musical: da palavra ao som". In:
Aberturas e impasses: o pós-modernismo na música e seus reflexos no Brasil - 1970-1980.
São Paulo: Unesp, 2005, p. 109-140.
Aberturas e impasses: o pós-modernismo na música e seus reflexos no Brasil - 1970-1980.
São Paulo: Unesp, 2005, p. 109-140.
Nenhum comentário:
Postar um comentário