quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Resenha: 1º capítulo do livro: Produção de Notações na Criança

RESENHA 

BAMBERGER, Jeanne; FERREIRO, Emilia; FREY-STREIFF, Marguerite; SINCLAIR, Anne. A Produção de Notações na Criança. Organizado por Hermine Sinclair. Tradução de Maria Lucia F. Moro. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1990.

Este livro relata pesquisas sobre como as crianças em séries iniciais apresentam o desenvolvimento e apropriação da escrita, bem como tenta elucidar notações de escritas alfabéticas e numéricas, o livro referencia nas questões da criança pequena possuir aquisição da linguagem escrita, pela construção de notações rítmicas e melódicas em que sugere estar diretamente ligada ao mundo das representações. Assim a escrita alfabética torna o produto da evolução iniciada pelo desenho, pictograma, ideograma, fonetização e culmina com a escrita silábica e posteriormente alfabética.
No capítulo, A escrita antes das Letras, por Emília Ferreiro, trata do inicio da aquisição da linguagem, ressalta que a língua materna é a primeira forma de linguagem vivida pela criança e que o fator de tentativas de escritas decorre por tentativas de imitação aos adultos, em seguida é dividido a pesquisa por meio de três períodos.
O primeiro período é determinado pelo encontro entre marcas figurativas ou não, neste período constata que a criança não diferencia letras e números, pois para ela, todas as marcas gráficas são letras o que é importante para diferenciar o icônico do não icônico, desenho da escrita onde as letras são objetos particulares do mundo, contudo a função de trocas sociais ainda está longe pelo fato de exigir representação.
Realiza com uma criança entre 3,5 aos 5,2 anos, a experiência de análise entre imagem e o que a escrita desta imagem representa, onde ao perguntar sobre figuras, associa os desenhos com o texto escrito abaixo das imagens, tem como resultado, uma escrita com desenhos em forma de bolinhas na tentativa de representar o objeto apresentado, conceituando então que ler é igual a escrever. Deste modo é necessário distinguir a palavra produzida pela leitura, assim é compreendido por letras os grafemas não icônicos, representados por uma pseudo-leitura ao escrever bolinhas, na tentativa de escrever o nome dos objetos.
O segundo período é tratado pela construção dos modos de diferenciação entre encadeamentos de letras por eixos quantitativos e qualitativos, onde a variação intrafigural consiste por determinar quais critérios de escrita permitirão ser decodificadas, ressaltando que dois textos diferentes podem transmitir mesmo significado, sendo assim a pesquisa gera questionamentos de como elaborar diferenças textuais para identificar palavras diferentes, por não possuir grande variedade de letras, as crianças terminam por variar a ordem das letras na obtenção de diferentes tonalidades, alternando combinações para apropriação de modos de diferenciação dentro de intervalos entre três e sete caracteres, determinado pelo eixo qualitativo. Sendo assim, o eixo quantitativo é conceituado na quantidade que a criança determina ao escrever objetos maiores ou menores, com mais caracteres ou em pouca quantidade. As representações intrafigurais concluem dentro do contexto escrito, produzidos para melhor percepção lógica que a criança interpreta.
Os problemas lógicos pela compreensão do sistema alfabético que acontecem segundo Ferreiro, dispõe da relação entre psicogênese e aprendizagem acreditando em hipóteses de que a língua escrita resulta da transcrição do som e uma segunda hipótese da lógica das operações concretas como primícias para aprendizagem, sendo considerada por Piaget, ser necessário seriar e classificar as operações para ocorrer compreensão alfabética e pelo principio de assimilação e acomodação, é considerado importante esperar a conclusão lógica para posteriormente assimilar novos conceitos e então analisar o desenvolvimento lógico encontrado durante o processo de apropriação da escrita.
Na relação entre a totalidade e as partes constituídas, refere parte do conceito que a criança já interpreta as letras para saber da possibilidade de compreender as partes constitutivas. É exemplificado que a criança entende seu nome escrito como totalidade mesmo não sabendo escrever, seu nome é atribuído para nomear pessoas de seu vínculo afetivo. Portanto há uma conclusão de que a compreensão está no sentido de relações das partes das palavras enunciadas e a palavra escrita em sua totalidade.
Na correspondência termo a termo, parte da afirmativa que o nome pode ser decomposto em pedaços, onde as partes formam sequências compondo em sílabas e caracterizando o início da fase silábica.
Já na análise do terceiro período do desenvolvimento é iniciado com a hipótese silábica e algumas dificuldades no controle de produções da escrita, onde por pesquisa é relatado dificuldades que a criança passa exigir para escrever uma palavra monossílaba, o mínimo três letras alegando não ser possível formar uma palavra se houver duas letras ou uma.
Observa a variedade da concentração das crianças, onde estas perpetuam pelo eixo quantitativo, outras no qualitativo pela hipótese silábica, determinando por uma escrita em que acontece omissão de algumas letras. Analisa pela psicogênese a ocorrência de adição das letras, assim as dificuldades resultam por conseguir realizar o processo de diferenciação entre elementos para que as letras sejam representadas, é entendido que se a escrita for pela identificação sonora, requer habilidade visual, motora e auditiva, onde deve concentrar no significado, na decodificação, na construção simbólica para haver compreensão.
Comparando este capítulo aos conceitos interacionistas como as pesquisas e afirmações de Vygotsky, a criança pode ou não apresentar a fase de desenvolvimento na faixa etária descrita, pois o meio e a vivência apresentada pela criança, considerando as interações tanto humanas como ferramentas de interação tecnológicas, a criança aos cinco anos poderá ter superado seu egocentrismo, conceituado por Piaget, e também sua fase de representação, eixos qualitativos e quantitativos e se encontrar numa fase de hipótese silábica, apresentada por Ferreiro. A idade cronológica, deste modo, poderá ou não corresponder à idade de desenvolvimento de escrita da criança, deste modo, as fases do desenvolvimento de compreensão, decodificação e apropriação da linguagem escrita, dependerão de fatores estimulados pelo meio que a criança se insere, sendo o professor um condutor de ferramentas desta potencialização.
Esta obra é indicada aos assuntos de cognição do pensamento na aquisição e apropriação da linguagem escrita, contribui para interesses em pesquisas de compreensão do pensamento humano na decodificação dos símbolos, até a obtenção completa deste desenvolvimento durante o processo de alfabetização.
Nascida em Buenos Aires, 1936, Emília Beatriz Maria Ferreiro Schavi é psicóloga e pedagoga, doutora pela Universidade de Genebra, sobre orientação de Jean Piaget, com quem trabalhou posteriormente como assistente, formando mais tarde, um grupo de pesquisas em Buenos Aires sobre alfabetização, onde fez algumas publicações. Após o golpe de estado em 1997, na Argentina, exilou-se na Suíça, lecionando em Genebra e em 1979, residiu-se no México onde se casou com o físico e epistemólogo Rolando Garcia com quem teve dois filhos. Ferreiro é viva e atualmente continua com suas pesquisas, orientações e publicações. Em 1992 recebeu título de doutora Honoris causa da Universidade de Buenos Aires; em 1999, por outras Universidades na Argentina e em Atenas (Grécia). No Brasil, em 1997, recebeu medalha de “libertador da humanidade” pela Assembleia Legislativa da Bahia; em 1995, foi homenageada com título de doutor Honoris causa pela Universidade estadual do Rio de Janeiro; em 2001 recebe do Brasil a Ordem Nacional do Mérito educativo.
Resenha descrita por Aline Mendonça Pereira; Pós Graduada em Educação e Alfabetização pela Faculdade Brasileira – FABRA (ES); Pedagoga, Universidade de Uberaba (MG).

Palavras-chave: Linguagem da escrita. Eixo quantitativo. Eixo qualitativo. Variação intrafigural. Hipótese silábica. Operações concretas.


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