RESENHA
BAMBERGER, Jeanne; FERREIRO, Emilia; FREY-STREIFF,
Marguerite; SINCLAIR, Anne. A Produção
de Notações na Criança. Organizado por Hermine Sinclair. Tradução de Maria
Lucia F. Moro. São Paulo: Cortez Autores Associados, 1990.
Este
livro relata pesquisas sobre como as crianças em séries iniciais apresentam o
desenvolvimento e apropriação da escrita, bem como tenta elucidar notações de
escritas alfabéticas e numéricas, o livro referencia nas questões da
criança pequena possuir aquisição da linguagem escrita, pela construção de
notações rítmicas e melódicas em que sugere estar diretamente ligada ao mundo
das representações. Assim a escrita alfabética torna o produto da evolução
iniciada pelo desenho, pictograma, ideograma, fonetização e culmina com a
escrita silábica e posteriormente alfabética.
No
capítulo, A escrita antes das Letras, por Emília Ferreiro, trata do inicio da
aquisição da linguagem, ressalta que a língua materna é a primeira forma de
linguagem vivida pela criança e que o fator de tentativas de escritas decorre
por tentativas de imitação aos adultos, em seguida é dividido a pesquisa por
meio de três períodos.
O
primeiro período é determinado pelo encontro entre marcas figurativas ou não,
neste período constata que a criança não diferencia letras e números, pois para
ela, todas as marcas gráficas são letras o que é importante para diferenciar o
icônico do não icônico, desenho da escrita onde as letras são objetos
particulares do mundo, contudo a função de trocas sociais ainda está longe pelo
fato de exigir representação.
Realiza
com uma criança entre 3,5 aos 5,2 anos, a experiência de análise entre imagem e
o que a escrita desta imagem representa, onde ao perguntar sobre figuras, associa
os desenhos com o texto escrito abaixo das imagens, tem como resultado, uma escrita
com desenhos em forma de bolinhas na tentativa de representar o objeto
apresentado, conceituando então que ler é igual a escrever. Deste modo é necessário distinguir a
palavra produzida pela leitura, assim é compreendido por letras os grafemas não
icônicos, representados por uma pseudo-leitura ao escrever bolinhas, na
tentativa de escrever o nome dos objetos.
O
segundo período é tratado pela construção dos modos de diferenciação entre
encadeamentos de letras por eixos quantitativos e qualitativos, onde a variação
intrafigural consiste por determinar quais critérios de escrita permitirão ser
decodificadas, ressaltando que dois textos diferentes podem transmitir mesmo
significado, sendo assim a pesquisa gera questionamentos de como elaborar
diferenças textuais para identificar palavras diferentes, por não possuir
grande variedade de letras, as crianças terminam por variar a ordem das letras
na obtenção de diferentes tonalidades, alternando combinações para apropriação
de modos de diferenciação dentro de intervalos entre três e sete caracteres,
determinado pelo eixo qualitativo. Sendo assim, o eixo quantitativo é conceituado na
quantidade que a criança determina ao escrever objetos maiores ou menores, com
mais caracteres ou em pouca quantidade. As representações intrafigurais concluem
dentro do contexto escrito, produzidos para melhor percepção lógica que a
criança interpreta.
Os
problemas lógicos pela compreensão do sistema alfabético que acontecem segundo
Ferreiro, dispõe da relação entre psicogênese e aprendizagem acreditando em hipóteses
de que a língua escrita resulta da transcrição do som e uma segunda hipótese da
lógica das operações concretas como primícias para aprendizagem, sendo considerada
por Piaget, ser necessário seriar e classificar as operações para ocorrer compreensão
alfabética e pelo principio de assimilação e acomodação, é considerado importante esperar a conclusão lógica para posteriormente
assimilar novos conceitos e então analisar o desenvolvimento lógico encontrado
durante o processo de apropriação da escrita.
Na
relação entre a totalidade e as partes constituídas, refere parte do conceito
que a criança já interpreta as letras para saber da possibilidade de
compreender as partes constitutivas. É exemplificado que a criança entende seu
nome escrito como totalidade mesmo não sabendo escrever, seu nome é atribuído
para nomear pessoas de seu vínculo afetivo. Portanto há uma conclusão de que a
compreensão está no sentido de relações das partes das palavras enunciadas e a
palavra escrita em sua totalidade.
Na
correspondência termo a termo, parte da afirmativa que o nome pode ser
decomposto em pedaços, onde as partes formam sequências compondo em sílabas e caracterizando
o início da fase silábica.
Já
na análise do terceiro período do desenvolvimento é iniciado com a hipótese
silábica e algumas dificuldades no controle de produções da escrita, onde por
pesquisa é relatado dificuldades que a criança passa exigir para escrever uma palavra
monossílaba, o mínimo três letras alegando não ser possível formar uma palavra
se houver duas letras ou uma.
Observa
a variedade da concentração das crianças, onde estas perpetuam pelo eixo
quantitativo, outras no qualitativo pela hipótese silábica, determinando por
uma escrita em que acontece omissão de algumas letras. Analisa pela psicogênese
a ocorrência de adição das letras, assim as dificuldades resultam por conseguir
realizar o processo de diferenciação entre elementos para que as letras sejam
representadas, é entendido que se a escrita for pela identificação sonora,
requer habilidade visual, motora e auditiva, onde deve concentrar no
significado, na decodificação, na construção simbólica para haver compreensão.
Comparando
este capítulo aos conceitos interacionistas como as pesquisas e afirmações de
Vygotsky, a criança pode ou não apresentar a fase de desenvolvimento na faixa etária
descrita, pois o meio e a vivência apresentada pela criança, considerando as
interações tanto humanas como ferramentas de interação tecnológicas, a criança aos cinco anos poderá ter
superado seu egocentrismo, conceituado por Piaget, e também sua fase de
representação, eixos qualitativos e quantitativos e se encontrar numa fase de hipótese silábica, apresentada por Ferreiro. A
idade cronológica, deste modo, poderá ou não corresponder à idade de desenvolvimento
de escrita da criança, deste modo, as fases do desenvolvimento de compreensão,
decodificação e apropriação da linguagem escrita, dependerão de fatores estimulados
pelo meio que a criança se insere, sendo o professor um condutor de
ferramentas desta potencialização.
Esta
obra é indicada aos assuntos de cognição do pensamento na aquisição e
apropriação da linguagem escrita, contribui para interesses em pesquisas de compreensão
do pensamento humano na decodificação dos símbolos, até a obtenção completa
deste desenvolvimento durante o processo de alfabetização.
Nascida
em Buenos Aires, 1936, Emília Beatriz Maria Ferreiro Schavi é psicóloga
e pedagoga, doutora pela Universidade de Genebra, sobre orientação de Jean
Piaget, com quem trabalhou posteriormente como assistente, formando mais tarde,
um grupo de pesquisas em Buenos Aires sobre alfabetização, onde fez algumas publicações. Após o golpe de estado em 1997, na Argentina, exilou-se na Suíça,
lecionando em Genebra e em 1979, residiu-se no México onde se casou com o físico
e epistemólogo Rolando Garcia com quem teve dois filhos. Ferreiro é viva e atualmente continua com suas pesquisas, orientações e publicações. Em 1992 recebeu
título de doutora Honoris causa da Universidade de Buenos Aires; em 1999, por
outras Universidades na Argentina e em Atenas (Grécia). No Brasil, em 1997,
recebeu medalha de “libertador da humanidade” pela Assembleia Legislativa da
Bahia; em 1995, foi homenageada com título de doutor Honoris causa pela Universidade estadual
do Rio de Janeiro; em 2001 recebe do Brasil a Ordem Nacional do Mérito
educativo.
Resenha
descrita por Aline Mendonça Pereira; Pós
Graduada em Educação e Alfabetização pela Faculdade Brasileira – FABRA (ES); Pedagoga, Universidade de Uberaba (MG).
Palavras-chave: Linguagem da escrita. Eixo
quantitativo. Eixo qualitativo. Variação intrafigural. Hipótese silábica.
Operações concretas.
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